Cinema e Cia - Lixo Extraordinário

Hoje vamos ver brotar esperança em meio ao lixo com o documentário – Lixo extraordinário! 

O momento mais belo é quando uma coisa se transforma em outra, bem diante de nossos olhos. Esta frase é dita em determinado trecho do documentário e retrata perfeitamente o que aconteceu comigo ao assisti-lo. Lixo Extraordinário me remeteu coisas muito além do que só um filme, me remeteu valores, descobertas e o resgate de um povo, assim um filme se transformou em um grito em meio ao silêncio da comodidade.

O documentário mostra a trajetória do artista plástico Vik Muniz, conhecido por trabalhar com matérias inusitados. Vik criou um projeto envolvendo o aterro sanitário de Gramacho na cidade do Rio de Janeiro (hoje o aterro já foi fechado), neste projeto ele idealizava utilizar o lixo, que era um material comum aquelas pessoas, na fabricação de arte e depois vender estas obras e reverter o dinheiro para melhoria do lugar, além de mostrar um novo horizonte as pessoas envolvidas.

No aterro Vik começa a conhecer a realidade do lugar e ver que ali tinha muito mais do que apenas lixo, que ali havia um povo com uma história de vida, com hombridade, generosidade e vontade de vencer. E é a esse povo que somos apresentados, um a um os “ personagens ” vão se mostrando, conhecemos suas histórias, motivações e medos. A montagem das cenas está perfeita pois nos faz essas apresentações de maneira fluída e natural.

Mas não vou me ater a parte técnica , porque ele vai muito além disso. O fator humano é ponto forte do filme, os personagens da vida real são fantásticos, pessoas que apesar do trabalho duro levam um sorriso no rosto e mantém a integridade a todo momento. Vemos que no meio daquele lixo existem sonhos, como o de Zumbi que era o de montar uma biblioteca, “o catador de livros” , havia desejo de aprender, como o de Tião que no lixo lia Maquiavel e Nietzsche e havia Valtér, com toda sua sabedoria nos ensinando que “99 não é 100” e que um gesto faz diferença sim.

É emocionante vermos a esperança nascerem de novo naqueles olhos antes apagados e sem brilho de alguns, vermos aquelas pessoas se sentirem novamente pessoas, ali percebe-se que as vezes só é preciso um incentivo, alguém que estenda a mão e lhes de pelo menos algo com o que sonhar. Ficamos aflitos ao vermos a problemática de como será depois que aquele projeto acabar e eles voltarem a serem “ apenas catadores “, como retroceder depois de conhecer novas fronteiras? E essas questões nos envolvem de uma forma que nós não conseguimos desgrudar os olhos da tela.

Em lixo extraordinário somos apresentados ao verdadeiro povo brasileiro, orgulhoso de sua honestidade, de seu companheirismo, um povo que não abaixa a cabeça diante das adversidades, um povo que mostra que sim, ainda temos salvação.

Tudo isso somado a uma trilha muito boa e tomadas belíssimas e insinuativas tornam esse documentário algo muito maior do que sua proposta inicial, principalmente para nós brasileiros. Eu sinto orgulho desse povo!